POR QUE OS POLICIAIS SE MATAM?*
*Crédito da publicação e link original da matéria acesse: Por que os policiais se matam? – CVV | Centro de Valorização da Vida
Um grupo de psicólogos da Polícia Militar do Rio de Janeiro e pesquisadores do Grupo de Estudo e Pesquisa em Suicídio e Prevenção da Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ lançou o livro “Por que os policiais se matam”, um dos mais completos estudos sobre a problemática do suicídio entre policiais, sob a coordenação da cientista política Dayse Miranda. A pesquisa, divulgada em março deste ano, foi motivada pela percepção de que algumas profissões, como a de policial, têm fatores de estresse maiores do que os da população em geral, o que leva a problemas emocionais e incidência de suicídio mais elevados. No caso dos policiais, o ambiente de trabalho inclui rotina de agressões verbais, abuso de autoridade e humilhações dos superiores, escala de trabalho exaustiva, risco constante de ser ferido ou morto em uma operação, treinamento e equipamentos aquém do necessário, falta de reconhecimento pela sociedade, baixos salários etc.
Em dados divulgados à BBC em 2015, o grupo revelou que, de 224 policiais militares entrevistados, 10% disseram ter tentado suicídio e 22% afirmaram ter pensado em suicídio em algum momento. O estudo concluiu que o risco de suicídio entre policiais é quatro vezes superior ao da população em geral. Os pesquisadores alertam, porém, que os números são ainda maiores, pois há indícios de que muitos suicídios consumados são tratados como acidentes. As razões variam: alguns não querem expor o problema por questões socioculturais, pois ainda há tabu e preconceito em torno do suicida; outros por fatores econômicos, pois ainda há estados em que a família perde direitos se o policial provocou a própria morte.
A delegada de Polícia Federal Tatiane Almeida, mestre em Sociologia pelo Instituto Universitário de Lisboa, fala da dificuldade que o policial tem em revelar emoções e fragilidades, pois constrói a sua identidade em torno da imagem de força e coragem, inclusive no ambiente familiar e social. “O policial fica isolado da sociedade. Não sabe ser pai, ser marido. Quando perde o distintivo [ao se aposentar], fica sem saber o que fazer. Outro ponto é que está na nossa formação suspeitar sempre do outro. O policial acha que todo mundo é ruim e ele é o herói. E não aceita ser visto como fraco”, diz a delegada.
A saúde emocional desses profissionais deve ser foco de atenção das corporações. Além da preocupação com o indivíduo e sua família, não se pode deixar de reconhecer que um policial com problemas psíquicos como depressão, ansiedade, bipolaridade ou excesso de ira é um perigo para a sociedade, pois pode extravasar seu sofrimento e sua frustração nas ruas, sendo este um dos fatores que explicam a violência e a arbitrariedade comuns nos noticiários.
CVV Belém – PA
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